A última
Quarta-Feira, dia 9 de Julho, entrou para a história do Futebol Americano
nacional. Estreiamos no Mundial da modalidade e, apesar de um resultado
negativo, podemos tirar importantes lições desta partida e crescer a partir delas.
Vou fazer uma análise do jogo em geral e de alguns jogadores.
Foto: Victor Francisco (Salão Oval). |
O placar foi surpreendente.
Antes de fazer
qualquer crítica ao resultado é preciso ter em mente os seguintes pontos: a
França está em seu quinto mundial e possui uma Federação desde 1989; a França
possui uma Liga em alto nível, próxima ao profissional; a França teve uma
semana inteira de aclimatação nos EUA. Agora, considere também que o Brasil até
semana passada não tinha nem certeza se conseguiria ir, os jogadores pagaram
passagem do próprio bolso (muita gente boa ficou de fora por isso) e chegamos
aos EUA na véspera da estreia.
A tal da
“aclimatação” parece uma grande frescura, mas não é. Os jogadores brasileiros
jogam em times muito distantes e não conseguem treinar junto para acertar os
detalhes, pegar o timing do companheiro. Some isso ao nervosismo de estar
jogando um mundial pela sua Seleção e você vai entender perfeitamente o alto
número erros de marcação, drops e aquele retorno de Kickoff logo de início.
Temos reais motivos pra acreditar no Onças.
Mesmo com todas as
dificuldades, o Brasil fez um ótimo jogo! Um ponto que me chamou a atenção logo
assim que a partida acabou foi o fato de não termos sofrido nenhum turnover
(recuperamos o único fumble sofrido). Quem acompanha o FA nacional sabe que um
dos maiores problemas do Ramon “Mamão” é o de forçar lançamentos que acabam
sendo interceptados.
O Gameplan também
foi muito bem pensado, Danilo e Brian são realmente gênios. Os técnicos
entenderam que jogando contra um time superior, a melhor estratégia para o Brasil
seria fazer drives longos, consumindo bastante tempo e mantendo o ataque
francês fora de campo (ficou fácil entender o motivo depois do jogo, né?). O
rápido ataque francês dificultou essa estratégia brasileira no primeiro tempo,
mas voltamos bem melhor do intervalo e ficamos com a bola em 72% do tempo na
segunda etapa.
A defesa brasileira
demorou a pegar no tranco, mas quando pegou, meu amigo... Gerson Polamalu deu
um tackle no RB francês que doeu em mim, e ainda acertou o QB Durant numa blitz
que fez com que o Coach francês trocasse o lançador. Gardenal foi eleito o
melhor jogador brasileiro na partida, mas não achei que ninguém se destacou
individualmente, a defesa funcionou como conjunto.
Por fim, fizemos
apenas 4 faltas, contra incríveis quatorze do time francês! Inclusive, duas
faltas francesas por interferência de passe mantiveram vivas duas campanhas
ofensivas brasileiras.
Foto: Victor Francisco (Salão Oval) |
O que temos que melhorar?
Pegar a França logo
de cara foi um ótimo aprendizado, pois nos revelou nossos pontos fortes e fracos,
para que possamos melhorar nos outro nove dias de mundial. Vejo um Brasil muito
mais forte contra a Coreia do Sul e, possivelmente, Austrália.
Vamos analisar por
partes o que podemos melhorar então, começando pela Linha Ofensiva. Taylor,
Gigante e Anselmo jogam demais e deram conta do lado direito, mas o lado
esquerdo (com Hatila e Kruger) deixou a desejar. A DL francesa era boa, mas o
LG brasileiro indicava claramente quando faria um pull e muitas vezes deixava o
defensor passar sem ser tocado. Não conheço as demais opções de jogadores, mas
Brian vai certamente dar muita atenção a estes.
O jogo corrido tem
que ser o ponto forte brasileiro, temos um backfield repleto em talento e força
e isso ficou visível no jogo de ontem. Tivemos 88 jardas em corridas positivas,
mas perdemos assustadoras 79 naquelas que acabaram atrás da linha de scrimmage.
O confronto nas linhas pesa muito aqui, como na jogada do TD brasileiro onde os
jogadores brasileiros jogaram os franceses dentro da endzone e fizeram o
trabalho de Rhudson muito mais fácil.
No jogo aéreo,
imagino que o problema com drops já esteja resolvido até o próximo jogo.
Medalhões como Vinny, Cebola e Heron precisam render mais e mostrar porque são
unanimidades no Brasil. Manteria Mamão como o QB e Lipe Fernandes como WR,
melhor recebedor na última partida.
Na defesa o
trabalho precisará ser pesado, já que foram evidenciados falhas tanto no
aspecto tático quanto técnico. O front-seven do Onças precisa ter maior
fidelidade aos gaps, muitas vezes os jogadores iam como loucos atrás da bola e
esqueciam de cobrir seus espaços, o que abria uma avenida pro ótimo RB francês.
Outra questão foram
os tackles mal executados, em certos momentos por ir só com o ombro ao invés de
fazer o “wrap”, em outros por querer derrubar o adversário usando apenas os
braços. Acho que nesse ponto pesou o nervosismo, pois todos os jogadores ali
são ótimos nesse fundamento e não acredito que vá ser algo preocupante nos
próximos jogos.
Por fim, deixamos
exposta logo de cara nosso calcanhar de Aquiles: a secundária. Vitor
Veloso, disparado o melhor CB do Brasil, não viajou com a equipe, o que fez com
que Sodré e Sapo formassem a dupla de titulares, relembrando os bons tempos de
Imperadores. Para o nível do Futebol Americano praticado no país, todos os DBs
convocados são completos monstros, mas aparentemente esse setor é onde fica
mais visível a defasagem de nosso jogo para o de uma seleção mais experiente.
O jogo aéreo ficou
muito mais fácil também por conta do aspecto tático. Os dois CBs brasileiros
jogaram quase a todo momento há mais de oito jardas dos recebedores, e em face the play, o que deixou as flats
completamente abertas e possibilitou que o QB Durant achasse com facilidade os
WRs Dable #8 e Rioux #11 que receberam screens, slants, curls e flats sem
muitas dificuldades. Outro “pote de ouro” para o time francês foram as conexões
fundas, principalmente em Corners, que os ajudaram a converter muitas terceiras
descidas para mais de dez jardas.
Foto: Victor Francisco (Salão Oval) |
E se eu fosse o técnico...
Como disse
anteriormente, o time do Brasil tem ótimos técnicos e está “bem montado”, e por
conta disso eu faria poucos ajustes na equipe atual.
Na defesa, a
alteração mais significativa que faria é incluir o LB Pablo Chalfun #52 jogando
no lado fraco e descer o versátil Igor Motta #14 para Safety, formando dupla
com Paulo Torquato #28. Além disso, aproveitaria os treinamentos para focar em
fundamentos de tackle e press coverage, assim como execução de jogadas de
marcação em zona.
No ataque, é
preciso confiar em Ramon Martire e no talentoso grupo de WRs, explorando o melhor
que cada um tem a oferecer. Mamão é nosso QB desde 2007 e simplesmente tirá-lo
para colocar Rhudson #1, que apesar de ter experiência nos EUA não conhece seus
legíveis, me parece um enorme erro. Gostei de como o coach Brian usou Rhudson
apenas em alguns pacotes, mas é preciso fazer mais que apenas Read Options e
Draws, para criar a imprevisibilidade para as defesas.
No papel dos
Coaches, colocaria os legíveis e lançadores para executarem um milhão de vezes
cada jogada, para criar o timing e para criarem costume com a bola do torneio, assim como colocaria os jogadores de linha
para treinarem em conjunto e desenvolver a sintonia necessária. Por fim,
acredito que seria interessante utilizar jogadas em I-Form contra o fisicamente
fraco time coreano e mostrar porque levamos o FB “Pingo” #43 para Ohio.
Os Special Teams
também precisam ser melhorados, mas conheço o Coach Gabriel Mendes, um dos
caras mais perfeccionistas do mundo, e consigo imaginar o quanto ele deve estar
cobrando muito disso dos jogadores.
Não poderia deixar passar:
Sei que o texto
está enorme, mas não poderia deixar passar a habitual falta de profissionalismo
de Rômulo Mendonça e Paulo Antunes, da ESPN, durante o jogo. O primeiro, famoso
por ser um palhaço fantasiado de narrador, reclamava a todo momento da Seleção,
fazendo piadinhas de péssimo gosto e diminuindo o trabalho dos atletas e
membros da comissão técnica. Antes do jogo começar, o áudio da transmissão
vazou e foi possível ouvir diversos comentários no mínimo idiotas por parte da
equipe, como Paulo Antunes dizendo: “Mas porra, confiar nessas estatísticas que
nos passaram é foda”.
Faltou
profissionalismo e seriedade por parte de quem deveria ser incentivador do
esporte nacional, de quem é visto como referência por 90% das pessoas que
acompanham o futebol americano no país e de quem não se preocupa em conhecer ou
ajudar a realidade dos atletas que deram sangue (e MUITO dinheiro) para estar
em Ohio.
Mas enfim, Domingo
tem mais. Que venha a Coreia!