sábado, 13 de setembro de 2014

O outro lado da moeda - Porque os grande vilões também são vítimas

Esta foi certamente uma das semanas mais vergonhosas para a história da NFL! O vazamento de um vídeo que mostra o então RB do Baltimore Ravens, Ray Rice, dando um soco na cara de sua noiva se tornou manchete em toda a mídia e reacendeu um debate sobre a postura da Liga ao tratar com tais casos. Para piorar ainda mais, Adrian Peterson ,RB do Minnesota Vikings, teve sua prisão pedida por denúncias de agressão a seu filho de apenas quatro anos. Mas será justo simplesmente apedrejar todo e qualquer jogador que faz uma besteira, ou podemos buscar entender os motivos que o levam a isso?

A negligência ao caso de Rice pode custar o emprego do comissário Roger Goodell
Antes de continuar, é importantíssimo deixar bem claro que eu não concordo com a atitude do Ray Rice, muito menos do Adrian Peterson. Violência em qualquer circunstância é condenável e se torna ainda mais quando praticada contra uma mulher ou uma criança indefesa. Meu objetivo com este texto é apenas mostrar que esses acontecimentos (e muitos outros similares) podem ser evitados com uma grande facilidade.

O problema não é de hoje.

Existem alguns casos bastante icônicos em toda história da NFL, mas acredito que nenhum é mais do que o de OJ Simpson. O corredor foi um dos maiores jogadores da história do Buffalo Bills (e ator nas horas vagas) e em 1995 teve de responder judicialmente por suspeitas um duplo homicídio, sendo uma das vítimas sua ex-esposa. Apesar de provas significativas que apontavam a culpa para OJ, ele foi inocentado e o caso ganhou grande notoriedade na mídia, sendo o júri transmitido para todos os EUA ao vivo pela TV.

Outros dois casos mais recentes, mas com tanta repercussão, foram os de Ray Lewis e Michael Vick. Lewis era a promessa como LB do Ravens (mesmo time de Rice) e era suspeito de um homicídio numa boate. Contudo, toda a história foi tratada de maneira bastante negligente, um outro homem assumiu a culpa, Lewis nunca enfrentou nenhum problema com a Liga e este episódio acabou caindo no esquecimento da mídia e dos fãs.

OJ chegou a ser preso, mas foi libertado após julgamento.
Por fim, Michael Vick! O então QB do Atlanta Falcons vivia o auge de sua carreira e castigava as defesas adversárias tanto correndo quando lançando, mas teve um hiato obrigatório em sua carreira após ser preso por gerenciar rinhas de cachorros. Depois de cumprir sua pena, Vick voltou para a NFL e não se envolveu em nenhum outro episódio polêmico dentro ou fora de campo.

Vick foi delatado por seu primo e foi preso por organizar rinhas de cachorro.
É preciso mais do que simplesmente crucificar.

O filme "Um Sonho Possível" foi um dos grandes destaques do ano de 2012, sendo indicado a diversos prêmios. A obra em questão conta a história de Michael Oher, menino negro e pobre que foi "adotado" por uma família de realidade muito distinta e acabou se tornando um jogador profissional de futebol americano.

Oher e sua família, quando ainda jogador do Ravens.
Apesar de ser obviamente dramatizada e aumentada, toda a história mostra como a realidade de Oher era problemática. Ele não sabe quem é seu pai, sua mãe é usuária de drogas, ele possuía outros sete irmãos, o Conselho Tutelar fazia visitar constantes para toma-los de sua mãe, seus amigos se tornam criminosos e chegam a convidá-lo para juntar-se a eles. É visível a dificuldade da família adotiva parar suprimir as "sequelas" de toda essa vida de dificuldades, e é chocante imaginar quantos milhares de outros meninos não têm a mesma sorte e acabam seguindo para o lado criminoso, ou até conseguem atingir o sucesso no esporte, mas sem nenhuma estrutura familiar ou disciplina em sua vida.

Imagine-se como um jovem nas mesmas condições de Oher, mas sem um "anjo da guarda" para te salvar. Por 18 anos a única coisa que te liberta de todo esse "sofrimento" é o esporte e então começam a chover cartas de convite para você fazer uma faculdade de graça por conta disso, e alguns anos depois um time te liga e diz que quer te ter como atleta, ganhando alguns milhões por ano! Este menino nunca teve nenhuma instrução de como cuidar de seu dinheiro, de como lidar com a pressão midiática ou algo do tipo, então ele toma atitudes consideradas estúpidas.

Melhor exemplo do caso acima é Adam "Pacman" Jones, CB do Bengals, que tinha tantos problemas extra-campo que teve que assinar uma espécie de termo onde se comprometia a melhorar suas atitudes. Hoje, ele até oferece palestras para Rookies que entram na NFL e se cita como exemplo negativo, contando que já chegou a gastar 1 milhão de dólares em uma noite (Sim, você leu certo!)

Qual a solução?

Quando Vick saiu da prisão, Tony Dungy, ex-Técnico do Colts, se ofereceu para fazer uma espécie de acompanhamento e aconselhamento ao jogador. Li em algum lugar que eles se tornaram amigos e se falam até hoje. Dungy é um caso ímpar de integridade e seriedade, mas gostaria de ver seu exemplo ser seguido por outros técnicos e jogadores aposentados.

Por fim, sejamos sinceros, saúde mental também é um assunto totalmente negligenciado no esporte como um todo! A mídia e o público preferem fazer piadas de casos como o de Titus Young, ex-WR do Lions, que foi preso três vezes numa mesma semana e demonstrava claramente desequilíbrio mental, ou então do RB que sumiu logo após o Combine e só reapareceu três dias depois, com a mesma roupa, na Florida, dizendo que Deus tinha lhe dito para fazer isso. 

Destaco o WR Brandon Marshall do Chicago Bears, que foi diagnosticado em 2011 com Transtorno de Personalidade Borderline (Vale a pena pesquisar sobre isso) e vem sendo o maior embaixador da importância de realmente se preocupar com a sanidade mental e deixar de ver isto como um tabu. Para isso, o atleta usa em algumas ocasiões adereços verdes em seu uniforme e faz constantemente publicações na internet sobre o tema.

Marshall usando chuteiras verdes em jogo contra o Giants
Solucionar este problema é possível, mas envolve um esforço conjunto e muito mais profundo do que simplesmente a implementação de uma política por parte da NFL. Acredito que os times (até mesmo de NCAA) deveriam oferecer maior acompanhamento psicológico (e psiquiátrico) para seus atletas e entender que mais do que corpos que trazem dinheiro para uma franquia, estamos tratando de seres humanos. Caso contrário, teremos que lidar sempre com casos chocantes como o de um homem que desmaia sua noiva com socos ou que amarra o filho e venda sua boca para espancá-lo.

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