sábado, 11 de julho de 2015

TÁ TENDO COPA" - Análise da estreia brasileira no Mundial.


A última Quarta-Feira, dia 9 de Julho, entrou para a história do Futebol Americano nacional. Estreiamos no Mundial da modalidade e, apesar de um resultado negativo, podemos tirar importantes lições desta partida e crescer a partir delas. Vou fazer uma análise do jogo em geral e de alguns jogadores.

Foto: Victor Francisco (Salão Oval).

O placar foi surpreendente.

Antes de fazer qualquer crítica ao resultado é preciso ter em mente os seguintes pontos: a França está em seu quinto mundial e possui uma Federação desde 1989; a França possui uma Liga em alto nível, próxima ao profissional; a França teve uma semana inteira de aclimatação nos EUA. Agora, considere também que o Brasil até semana passada não tinha nem certeza se conseguiria ir, os jogadores pagaram passagem do próprio bolso (muita gente boa ficou de fora por isso) e chegamos aos EUA na véspera da estreia.

A tal da “aclimatação” parece uma grande frescura, mas não é. Os jogadores brasileiros jogam em times muito distantes e não conseguem treinar junto para acertar os detalhes, pegar o timing do companheiro. Some isso ao nervosismo de estar jogando um mundial pela sua Seleção e você vai entender perfeitamente o alto número erros de marcação, drops e aquele retorno de Kickoff logo de início.

Temos reais motivos pra acreditar no Onças.

Mesmo com todas as dificuldades, o Brasil fez um ótimo jogo! Um ponto que me chamou a atenção logo assim que a partida acabou foi o fato de não termos sofrido nenhum turnover (recuperamos o único fumble sofrido). Quem acompanha o FA nacional sabe que um dos maiores problemas do Ramon “Mamão” é o de forçar lançamentos que acabam sendo interceptados.

O Gameplan também foi muito bem pensado, Danilo e Brian são realmente gênios. Os técnicos entenderam que jogando contra um time superior, a melhor estratégia para o Brasil seria fazer drives longos, consumindo bastante tempo e mantendo o ataque francês fora de campo (ficou fácil entender o motivo depois do jogo, né?). O rápido ataque francês dificultou essa estratégia brasileira no primeiro tempo, mas voltamos bem melhor do intervalo e ficamos com a bola em 72% do tempo na segunda etapa.

A defesa brasileira demorou a pegar no tranco, mas quando pegou, meu amigo... Gerson Polamalu deu um tackle no RB francês que doeu em mim, e ainda acertou o QB Durant numa blitz que fez com que o Coach francês trocasse o lançador. Gardenal foi eleito o melhor jogador brasileiro na partida, mas não achei que ninguém se destacou individualmente, a defesa funcionou como conjunto.
Por fim, fizemos apenas 4 faltas, contra incríveis quatorze do time francês! Inclusive, duas faltas francesas por interferência de passe mantiveram vivas duas campanhas ofensivas brasileiras.

Foto: Victor Francisco (Salão Oval)


O que temos que melhorar?

Pegar a França logo de cara foi um ótimo aprendizado, pois nos revelou nossos pontos fortes e fracos, para que possamos melhorar nos outro nove dias de mundial. Vejo um Brasil muito mais forte contra a Coreia do Sul e, possivelmente, Austrália.

Vamos analisar por partes o que podemos melhorar então, começando pela Linha Ofensiva. Taylor, Gigante e Anselmo jogam demais e deram conta do lado direito, mas o lado esquerdo (com Hatila e Kruger) deixou a desejar. A DL francesa era boa, mas o LG brasileiro indicava claramente quando faria um pull e muitas vezes deixava o defensor passar sem ser tocado. Não conheço as demais opções de jogadores, mas Brian vai certamente dar muita atenção a estes.

O jogo corrido tem que ser o ponto forte brasileiro, temos um backfield repleto em talento e força e isso ficou visível no jogo de ontem. Tivemos 88 jardas em corridas positivas, mas perdemos assustadoras 79 naquelas que acabaram atrás da linha de scrimmage. O confronto nas linhas pesa muito aqui, como na jogada do TD brasileiro onde os jogadores brasileiros jogaram os franceses dentro da endzone e fizeram o trabalho de Rhudson muito mais fácil.

No jogo aéreo, imagino que o problema com drops já esteja resolvido até o próximo jogo. Medalhões como Vinny, Cebola e Heron precisam render mais e mostrar porque são unanimidades no Brasil. Manteria Mamão como o QB e Lipe Fernandes como WR, melhor recebedor na última partida.

Na defesa o trabalho precisará ser pesado, já que foram evidenciados falhas tanto no aspecto tático quanto técnico. O front-seven do Onças precisa ter maior fidelidade aos gaps, muitas vezes os jogadores iam como loucos atrás da bola e esqueciam de cobrir seus espaços, o que abria uma avenida pro ótimo RB francês.

Outra questão foram os tackles mal executados, em certos momentos por ir só com o ombro ao invés de fazer o “wrap”, em outros por querer derrubar o adversário usando apenas os braços. Acho que nesse ponto pesou o nervosismo, pois todos os jogadores ali são ótimos nesse fundamento e não acredito que vá ser algo preocupante nos próximos jogos.

Por fim, deixamos exposta logo de cara nosso calcanhar de Aquiles: a secundária. Vitor Veloso, disparado o melhor CB do Brasil, não viajou com a equipe, o que fez com que Sodré e Sapo formassem a dupla de titulares, relembrando os bons tempos de Imperadores. Para o nível do Futebol Americano praticado no país, todos os DBs convocados são completos monstros, mas aparentemente esse setor é onde fica mais visível a defasagem de nosso jogo para o de uma seleção mais experiente.

O jogo aéreo ficou muito mais fácil também por conta do aspecto tático. Os dois CBs brasileiros jogaram quase a todo momento há mais de oito jardas dos recebedores, e em face the play, o que deixou as flats completamente abertas e possibilitou que o QB Durant achasse com facilidade os WRs Dable #8 e Rioux #11 que receberam screens, slants, curls e flats sem muitas dificuldades. Outro “pote de ouro” para o time francês foram as conexões fundas, principalmente em Corners, que os ajudaram a converter muitas terceiras descidas para mais de dez jardas.

Foto: Victor Francisco (Salão Oval)

E se eu fosse o técnico...
Como disse anteriormente, o time do Brasil tem ótimos técnicos e está “bem montado”, e por conta disso eu faria poucos ajustes na equipe atual.
Na defesa, a alteração mais significativa que faria é incluir o LB Pablo Chalfun #52 jogando no lado fraco e descer o versátil Igor Motta #14 para Safety, formando dupla com Paulo Torquato #28. Além disso, aproveitaria os treinamentos para focar em fundamentos de tackle e press coverage, assim como execução de jogadas de marcação em zona.

No ataque, é preciso confiar em Ramon Martire e no talentoso grupo de WRs, explorando o melhor que cada um tem a oferecer. Mamão é nosso QB desde 2007 e simplesmente tirá-lo para colocar Rhudson #1, que apesar de ter experiência nos EUA não conhece seus legíveis, me parece um enorme erro. Gostei de como o coach Brian usou Rhudson apenas em alguns pacotes, mas é preciso fazer mais que apenas Read Options e Draws, para criar a imprevisibilidade para as defesas.

No papel dos Coaches, colocaria os legíveis e lançadores para executarem um milhão de vezes cada jogada, para criar o timing e para criarem costume com a bola do torneio, assim como colocaria os jogadores de linha para treinarem em conjunto e desenvolver a sintonia necessária. Por fim, acredito que seria interessante utilizar jogadas em I-Form contra o fisicamente fraco time coreano e mostrar porque levamos o FB “Pingo” #43 para Ohio.

Os Special Teams também precisam ser melhorados, mas conheço o Coach Gabriel Mendes, um dos caras mais perfeccionistas do mundo, e consigo imaginar o quanto ele deve estar cobrando muito disso dos jogadores.

Não poderia deixar passar:
Sei que o texto está enorme, mas não poderia deixar passar a habitual falta de profissionalismo de Rômulo Mendonça e Paulo Antunes, da ESPN, durante o jogo. O primeiro, famoso por ser um palhaço fantasiado de narrador, reclamava a todo momento da Seleção, fazendo piadinhas de péssimo gosto e diminuindo o trabalho dos atletas e membros da comissão técnica. Antes do jogo começar, o áudio da transmissão vazou e foi possível ouvir diversos comentários no mínimo idiotas por parte da equipe, como Paulo Antunes dizendo: “Mas porra, confiar nessas estatísticas que nos passaram é foda”.

Faltou profissionalismo e seriedade por parte de quem deveria ser incentivador do esporte nacional, de quem é visto como referência por 90% das pessoas que acompanham o futebol americano no país e de quem não se preocupa em conhecer ou ajudar a realidade dos atletas que deram sangue (e MUITO dinheiro) para estar em Ohio.

Mas enfim, Domingo tem mais. Que venha a Coreia!

Nenhum comentário:

Postar um comentário