Não é preciso
acompanhar NFL há muito tempo para notar as significativas mudanças que o jogo
tem sofrido nos últimos anos. Comecei a me dedicar à Liga em 2006 e desde lá
ouso dizer que 90% das novas regras instauradas têm como foco a segurança dos
atletas. Desde a “Brady Rule”, proibindo um jogador caído de atacar o
Quarterback, até a maior fiscalização e punição por contatos com o capacete, o
que vemos hoje é um esforço super-heróico de Roger Goodell em tirar a imagem do
futebol americano como sendo um esporte violento.
Acho o Goodell um
hipócrita, o maior câncer da história da NFL e se tivesse que listar todos os
motivos para isso teríamos um texto bíblico. Contudo, apesar das críticas, eu
entendo as ações do Roger partindo do princípio que ele vê a NFL como um
negócio, como uma empresa que deve buscar sempre o maior lucro, e não com o
olhar apaixonado de fã que nós vemos.
Multar jogadores por
contatos considerados ilegais é uma medida que pega muito bem com a mídia, mas
pouco altera a brutalidade do jogo. O primeiro motivo para isso é que a maioria
desses contatos, apesar de perigosos, são naturais. É instintivo se abaixar
para se proteger de um impacto, assim como é anatomicamente impossível em
algumas situações evitar que o primeiro contato seja feito com sua cabeça.
Minha experiência jogando me garante que o ato de abaixar a cabeça e liderar
com a “coroa”, comum aos corredores, é tão nocivo quanto os tackles que geram
multas, mas muito mais negligenciados.
Outro fato que devemos
levar em conta é que os atletas têm tido uma enorme evolução física. Vi uma
entrevista do Ryan Clark, S do Steelers, onde ele diz que é impressionante como
os novos jogadores são mais atléticos e que às vezes ele se pega pensando “Por
que eu ainda estou jogando?”. Observe um jogador da NFL da década de 70 e
compare-o com Jadeveon Clowney, DL do South Carolina Gamecocks. Com 20 anos,
Clowney tem 1,98m, 124 kg e correu um 40-yard dash de 4.4s, o que significa que
ele é mais rápido que WRs como Larry Fitzgerald, Anquan Boldin e Jerry Rice.
Não é necessário ser um gênio da física para entender que algo ruim acontece
quando dois corpos de cerca de 120 kg colidem em alta velocidade.
O segredo desse avanço
no aspecto físico não é um treinamento supermoderno, nem a comida da mamãe,
muito menos a dedicação na academia. Todos esses fatores pesam, mas o
ingrediente X dessa mistura são esteroides anabolizantes. O uso no nível
profissional é feito com auxílio de profissionais e médicos especializados, mas
em níveis inferior, até mesmo no futebol americano brasileiro, é feito mais por
indicações não confiáveis ou até mesmo seguindo conselhos da internet.
Eu recomendo muito que
toda pessoa que acompanhe futebol americano há algum tempo leia e veja vídeos
sobre Tony Mandarich, um dos maiores busts da história da NFL. Já mais velho,
ele deu uma entrevista para a ESPN assumindo o uso de esteroides, dizendo tudo
que usava e até detalhes de como conseguia fraldar os exames antidoping. Óbvio
que ele não é o único, numa pesquisa rápida você consegue achar fotos do Brian
Cushing antes e depois dos esteroides que com toda certeza te deixarão de boca
aberta.
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Foi só Whey, ele jura! |
Mas enfim, por que não
controlar e combater o uso de esteroides? Ora, voltamos à hipocrisia do nosso
“NFL Commish”! Pra que se preocupar com isso quando temos novos recordes, que
alavancam a imagem de sucesso da liga, sendo estabelecidos ano após ano? Pra
que manchar uma entidade exemplar e seus jogadores com escândalos quando multas
são suficientes para calar os críticos?
A experiência negativa
recente envolvendo esteroides anabolizantes na Major League Baseball foi um
grande marco para os esportes e um exemplo a ser evitado. É muito vergonhoso
que todo grande jogador e feitos de uma geração sejam eternamente acompanhados
de um asterisco informando o uso de substâncias ilícitas. Não tenho dados ao
certo, mas acredito que o lucro total, audiência e presenças dos fãs em
estádios devem ter despencado em meio a toda essa crise.
Enquanto Goodell
permanecer em seu cargo a tendência é termos cada vez mais multas, suspensões e
regras que transformam gradualmente o futebol americano em vôlei. Da parte dos
jogadores, acredito que a grande tônica dos próximos anos serão lesões
gravíssimas de joelho, tornozelo e perna como um todo, uma vez que os tackles
tenderão a buscar partes mais baixas para fugir de faltas.
Testes de antidoping
envolvendo Hormônio Humano de Crescimento (HGH) foram propostos no ano passado,
mas não saíram do papel até o momento. É bem provável que um controle maior
sobre anabolizantes não passe a valer até que algum jogador morra em campo, ou
que algum jogador famoso fique seriamente lesionado por consequência de algum
contato mais duro. Até lá, viveremos essa realidade onde alguns jogadores são
perseguidos por serem considerados sujos e o Comissário se preocupe mais com a
imagem midiática da Liga do que com a integridade física de seus jogadores.
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