quinta-feira, 28 de novembro de 2013

A hipocrisia de Goodell e a política de falsa segurança


Não é preciso acompanhar NFL há muito tempo para notar as significativas mudanças que o jogo tem sofrido nos últimos anos. Comecei a me dedicar à Liga em 2006 e desde lá ouso dizer que 90% das novas regras instauradas têm como foco a segurança dos atletas. Desde a “Brady Rule”, proibindo um jogador caído de atacar o Quarterback, até a maior fiscalização e punição por contatos com o capacete, o que vemos hoje é um esforço super-heróico de Roger Goodell em tirar a imagem do futebol americano como sendo um esporte violento.
Acho o Goodell um hipócrita, o maior câncer da história da NFL e se tivesse que listar todos os motivos para isso teríamos um texto bíblico. Contudo, apesar das críticas, eu entendo as ações do Roger partindo do princípio que ele vê a NFL como um negócio, como uma empresa que deve buscar sempre o maior lucro, e não com o olhar apaixonado de fã que nós vemos.

Multar jogadores por contatos considerados ilegais é uma medida que pega muito bem com a mídia, mas pouco altera a brutalidade do jogo. O primeiro motivo para isso é que a maioria desses contatos, apesar de perigosos, são naturais. É instintivo se abaixar para se proteger de um impacto, assim como é anatomicamente impossível em algumas situações evitar que o primeiro contato seja feito com sua cabeça. Minha experiência jogando me garante que o ato de abaixar a cabeça e liderar com a “coroa”, comum aos corredores, é tão nocivo quanto os tackles que geram multas, mas muito mais negligenciados.
Outro fato que devemos levar em conta é que os atletas têm tido uma enorme evolução física. Vi uma entrevista do Ryan Clark, S do Steelers, onde ele diz que é impressionante como os novos jogadores são mais atléticos e que às vezes ele se pega pensando “Por que eu ainda estou jogando?”. Observe um jogador da NFL da década de 70 e compare-o com Jadeveon Clowney, DL do South Carolina Gamecocks. Com 20 anos, Clowney tem 1,98m, 124 kg e correu um 40-yard dash de 4.4s, o que significa que ele é mais rápido que WRs como Larry Fitzgerald, Anquan Boldin e Jerry Rice. Não é necessário ser um gênio da física para entender que algo ruim acontece quando dois corpos de cerca de 120 kg colidem em alta velocidade.
O segredo desse avanço no aspecto físico não é um treinamento supermoderno, nem a comida da mamãe, muito menos a dedicação na academia. Todos esses fatores pesam, mas o ingrediente X dessa mistura são esteroides anabolizantes. O uso no nível profissional é feito com auxílio de profissionais e médicos especializados, mas em níveis inferior, até mesmo no futebol americano brasileiro, é feito mais por indicações não confiáveis ou até mesmo seguindo conselhos da internet.
Eu recomendo muito que toda pessoa que acompanhe futebol americano há algum tempo leia e veja vídeos sobre Tony Mandarich, um dos maiores busts da história da NFL. Já mais velho, ele deu uma entrevista para a ESPN assumindo o uso de esteroides, dizendo tudo que usava e até detalhes de como conseguia fraldar os exames antidoping. Óbvio que ele não é o único, numa pesquisa rápida você consegue achar fotos do Brian Cushing antes e depois dos esteroides que com toda certeza te deixarão de boca aberta.
Foi só Whey, ele jura!
Mas enfim, por que não controlar e combater o uso de esteroides? Ora, voltamos à hipocrisia do nosso “NFL Commish”! Pra que se preocupar com isso quando temos novos recordes, que alavancam a imagem de sucesso da liga, sendo estabelecidos ano após ano? Pra que manchar uma entidade exemplar e seus jogadores com escândalos quando multas são suficientes para calar os críticos?
A experiência negativa recente envolvendo esteroides anabolizantes na Major League Baseball foi um grande marco para os esportes e um exemplo a ser evitado. É muito vergonhoso que todo grande jogador e feitos de uma geração sejam eternamente acompanhados de um asterisco informando o uso de substâncias ilícitas. Não tenho dados ao certo, mas acredito que o lucro total, audiência e presenças dos fãs em estádios devem ter despencado em meio a toda essa crise.
Enquanto Goodell permanecer em seu cargo a tendência é termos cada vez mais multas, suspensões e regras que transformam gradualmente o futebol americano em vôlei. Da parte dos jogadores, acredito que a grande tônica dos próximos anos serão lesões gravíssimas de joelho, tornozelo e perna como um todo, uma vez que os tackles tenderão a buscar partes mais baixas para fugir de faltas.
Testes de antidoping envolvendo Hormônio Humano de Crescimento (HGH) foram propostos no ano passado, mas não saíram do papel até o momento. É bem provável que um controle maior sobre anabolizantes não passe a valer até que algum jogador morra em campo, ou que algum jogador famoso fique seriamente lesionado por consequência de algum contato mais duro. Até lá, viveremos essa realidade onde alguns jogadores são perseguidos por serem considerados sujos e o Comissário se preocupe mais com a imagem midiática da Liga do que com a integridade física de seus jogadores. 

***

Nenhum comentário:

Postar um comentário